15/11/2007 (21:07)
População vai às ruas em nome da paz e da fé.
Fernando Vivas / Agência A TARDE
EMANUELLA SOMBRA E DANILE REBOUÇAS, do A Tarde
Num bairro tradicionalmente marcado pela presença de terreiros de candomblé, a liberdade de culto continua movendo manifestações, como a ocorrida nesta sexta no Engenho Velho da Federação. Ao som de tambores e instrumentos de sopro, cerca de 500 pessoas participaram da III Caminhada contra a Violência e Intolerância Religiosa e pela Paz.
A equede Zene Santos tentava fazer com que sua explicação fosse ouvida, enquanto uma forte percussão dava ares de festa ao movimento. Os organizadores pediam um convívio pacífico com os evangélicos locais, ao tempo em que a religiosa – braço direito de mãe Val, do Terreiro do Cobre – lembrava das constantes intimidações defronte dos terreiros, tentativas desrespeitosas de conversão dos filhos-de-santo e das menções pejorativas de alguns cultos cristãos locais.
Mãe Raimunda, do Terreiro de Bobonissema, citou vezes em que “os crentes até jogavam pedras em cima de sua casa”. Fora as agressões verbais, freqüentes, num bairro crivado de novas igrejas, improvisadas em antigos supermercados e outros pontos comerciais. Por onde o cortejo passou, as portas fechadas em vários desses templos chamavam atenção, mas talvez fossem sinal da tranqüilidade comum dos dias de feriado.
Uma das participantes, a vereadora Olívia Santana (PCdoB), foi moradora do Engenho Velho por 15 anos e pontuou a importância de haver “não só no bairro, mas em toda a cidade, uma convivência mais pacífica, sem uma religião querendo substituir a outra”. Olívia é autora do projeto de lei que criou o Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro. A data foi a mesma da morte da ialorixá Gildásia Santos, do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, que faleceu de infarto há sete anos após ser vítima de preconceito religioso.
Como parte das manifestações pela Semana da Consciência Negra, outra caminhada – de cunho nacional, com propósito semelhante – partirá do Engenho Velho, dia 25, e fará um abraço simbólico ao Dique do Tororó.
PAZ – Manifestação semelhante foi realizada por moradores da Boa Vista do Lobato, Alto do Cabrito e adjacências. Eles foram às ruas em protesto contra a violência, organizado pela paróquia Sagrado Coração de Jesus (Alto do Cabrito). No meio dos jovens e adultos, as crianças se destacavam, representando a maioria.
Pequenos no tamanho e na idade, mas conhecedores da realidade local. Quando questionadas, as crianças não hesitaram em contar casos de violência presenciada dentro da escola, na rua ou até mesmo em casa. “Meu colega levou uma faca pra sala e ameaçou outro, lá também tem muita briga, e os meninos saem feridos”, relatou Giovana Oliveira, 8 anos, estudante da 2ª série da Escola Daniel Borges.
“Eu já vi morte aqui no bairro e a gente tem que lutar contra isso”, disse Lara de Souza, 8 anos. Somente este mês, Lara já participou de três caminhadas pela paz. Ontem, sua mãe, Claudinice de Souza, a acompanhava. “Temos que enfrentar a violência, precisamos mudar esse cenário para proteger nossos filhos”, disse.
O aumento nos índices e tipos de violência no Cabrito e Lobato motivou a manifestação. De acordo com o organizador, José Carlos da Exaltação, além dos homicídios freqüentes na localidade, têm acontecido também roubos a casas e assaltos com uso de moto. “Vivemos em um clima de insegurança, e o poder público precisa olhar por nós”, declarou.
Juntos, Alto do Cabrito e Boa Vista possuem cerca de 52 mil habitantes, segundo a associação dos moradores (Amaca). No entanto, não há na região escolas de ensino médio, faculdades, nem área de lazer. O transporte público é precário (10 carros atendem às duas localidades), há carência de postos de saúde e saneamento básico (32 ruas não possuem rede de esgoto e pavimentação).
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
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